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quinta-feira, 5 de maio de 2011

LÍNGUA NACIONAL



Falo, e este é o meu retrato:
cordas que vibram
num peito de madeira e aço.
Mas é de sangue e carne
a voz que me desenha,
e é de brio e sonho
a letra que me diz.
O que me toca
são os dedos de minha língua,
que aportuguesa em notas
uma bandeira cabocla,
multicor, multiforme, partiturada
na clave de sol,
tangendo o vento,
adoçando o dia
e romantizando a noite.
Sou o caos violento das correntes
submersas
das quais ninguém sabe
por ser minha carne de pedra
e fluir minha vida em silêncio.
Sou a balbúrdia mansa,
sou o abismo raso,
sou o pé descalço sobre o vidro colorido
na praça dos meus iguais.
Sou a língua que uso,
rasgando a babel de meus irmãos
num aboio,
enredando-se e emergindo feroz e suave sobre as torres ibéricas:
sou de dentro das cavernas do sertão;
sou dos mares a escama das jangadas;
sou o bicho de Manuel Bandeira
que aprendeu a cantar
e canta!

05/05/11

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