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sexta-feira, 25 de março de 2011

JOANA


Clarice Lispector quando criança

Lidiane, citando Clarice, postou o seguinte diálogo constante de Perto do Coração Selvagem:
“— O que é que se consegue quando se fica feliz? — sua voz era uma seta clara e fina.
(…)
— Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? — repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a surpresa.
— Que ideia!  Acho que não sei o que você quer dizer, que ideia!  Faça a mesma pergunta com outras palavras…
— Ser feliz é para se conseguir o quê?
(…)
— Sente-se… Brincou muito?
— Um pouco…
— Que é que você vai ser quando for grande?
— Não sei.
— Bem.  Olhe, eu tive uma ideia — corou.
— Pegue num pedaço de papel, escreva essa pergunta que você me fez hoje e guarde-a durante muito tempo.  Quando você for grande leia-a de novo — olhou-a —. Quem sabe?  Talvez um dia você mesma possa respondê-la de algum modo… — perdeu o ar sério, corou —. Ou talvez isso não tenha importância e pelo menos você se divertirá com…
— Não.
— Não o quê? — perguntou surpresa a professora.
— Não gosto de me divertir — disse Joana com orgulho.”

A mim, só me veio à mente o que vejo todo dia, como professor, e vou dizê-lo em inglês, para que eles entendam: satisfaction generation
Claro, a menina Joana, de Clarice, não era uma amostra das Joanas de hoje. A Joana de Clarice era um fragmento de Clarice…
As de hoje são só fragmentos.
Porém, tentando responder bonito: ser feliz é para justificar-se a vida, e, depois, continua-se vivendo!
E o que é a vida, para ter-se de justificar?
A vida, digo eu, a vida é criar rosas, ou mangas, ou fazer café, ou ir ao cinema, ou dar bom-dia.
A vida é criar sem perceber a felicidade pela qual se vive.
A vida é você e o outro, quando não são nem um nem outro.

25/03/11

2 comentários:

Unknown disse...

às vezes,penso que nem Joana e me sinto em cacos...e pra citar mais da mesma, numa outra história:"por isso é que sua vida se resumia num monte de cacos: uns brilhantes, outros baços, uns alegres, outros como um "pedaço de hora perdida", sem significação, uns vermelhos e completos, outros brancos, mas já espedaçados."

Crisneive Silveira disse...

E é tão simples né?