Ela abandona o galho
E diz adeus com sua queda,
Até que o chão a ampara
No meio do flandre dos carros.
Ele rompe com a carne,
Atravessando o aço divisório
Do vermelho do mar de sangue
E da terra branca prometida.
Ela deixa a mente sair
E, no corpo, a modorra entrar
Em cápsulas desimaginadas
Que a dissolvem para outro lugar.
Ele, cansado de nunca o tempo
Passá-lo de cá pra lá,
Artificia-se em pêndulo
Para que possa ir-se com o tempo dançar.
Ela não quis o pouco que havia
E mais pôs, rápida, a invadir
O que, pelo ouvido, entrasse
E, por onde saísse, levasse-a.
Ele deitou-se espraiado
Debaixo de um céu de brigadeiro
E deixou-se cobrir, confortável,
Por um mar que o adormecesse.
Ela achou-se incontida
Na pressa do dia-a-dia.
Tentou desengarrafar-se
Por um sinal verde que a parasse.
Ele cansou-se de andar: parou.
Sentiu o vento mover-se para fora
De seu peito que o substituiu
Por um gás que mais o ascendesse.
Ela, farta do frio de estar
Exposta à geleira dos outros,
Inflamou-se por completo
Em busca do seu próprio calor.
Ele não gostava do próprio conjunto
De desarmônicas partes: desfê-las
De um golpe, libertando-as para sempre,
Sob e sobre os ferros imperfeitamente paralelos.
Ela conjurou os astros
E persignou-se ao peito manso,
Depois deitou-se com Deus,
Castamente jejuada.
Ele arrastou para fora
O que no ventre lhe tolhia
E parecia encher-lhe,
Esvaziando-se até sumir-se.
Eles demoraram mais. Aguardaram
Pacientemente o trem que, depois de uma vida,
Chegou pontualmente atrasado
Ao que já era o fim da linha.
22/08/09
Um comentário:
Depois de me esbaldar com teus poemas, fico matutando de onde tu consegue tirar essas ideias!!=DDD
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