Número de sílabas (desde 11/2008)

counter

sexta-feira, 12 de junho de 2009

JÁ NÃO SEI MAIS DANÇAR

Agora, já não me pulsa nas veias o sangue libertador
e o sem-brilho da escuridão forte e determinada
já não flui.
Agora, pedaços de carne se espasmam desencontrados,
perdidos, esquecidos por sobre os ossos sem dia e sem noite.
Por onde andam os espíritos das casas que fui,
onde estão guardadas as horas que passamos juntos?
Já não sei mais dançar.
Só restaram a poeira dos móveis, uns livros velhos e não-lidos,
uma arca de tesouros vazia de valor.
Preciso é acender a luz, descortinar o lume velho,
afogar a abstinência de muitos e muitos anos da fria realidade.
Preciso agora, mais que nunca, enxergar.
Os olhos abertos, no entanto, contam-me novidades desagradáveis,
coisas que penso já haver visto.
Talvez com os olhos antigos, de outros carnavais.
Talvez pressentido, com um sabor às vezes amargo de antigamente,
como se chegado um vento descuidado e fugidio,
um aviso da vida: nos encontraremos.
Hoje choveu e está quente.
Não há música em parte nenhuma da casa nem em mim.
Mesmo se houvesse,
mesmo que girassem de novo as pás do meu velho moinho,
já não danço mais, já não sei mais de nenhum carnaval.

17/03/2007

Nenhum comentário: