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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A AURORA

Abri as portas das Casas, meus amigos.
O dia de vossas querências chega com a aurora.
A busca dos raios do vosso sol — este, que raia —
Alveja as paredes caiadas em torno de vós.
Abri também as janelas, se possível, fazei novas frestas.
Melhor: derrubai as casas. Desintegrai os tijolos,
Uni os espaços, amnesiai-vos de todas as divisões,
Que os dias de vossas querelas findam com a aurora
Que chega e entra e possui como um demônio violador.
Dos caídos. Dos insuspeitos.
Preparai-vos, que, com a alba, é chegada a desejada
De todos vós: a desinibidora, a desconstrutora, a ungente.
A luz do dia que porá por terra o despreparo de vossas almas.
O desespaço; o inespaço.
Abri as portas da Casa.
Destrancai os olhos ao que nunca quisestes verificar,
Ao que temíeis, ao que vos afligia.
Derramai por toda parte as vossas cargas,
Desatai os nós de vossos dedos e deixai que se desenlacem de vós
Os pecados de vossos temores no Pecado.
Deixai que todas as miradas vos perpassem
Como num teatro de vidro uma chuva de raios furta-cor.
Desengendrai vossas tramas, retrocedei vossos engenhos,
Desguarnecei-vos de todo cuidado.
Entregai-vos.
Abri as portas das vossas Casas, meus amigos,
Que é chegada a hora de vossas intolerantes e imperdoáveis paixões
Vagarem nuas, alucinadas, estapafúrdias pelas ruas.
Deixai que sangrem de vossos corações os ódios e os amores.
Esquecei de vós e dos vossos, que é também chegada a sua hora.
Não há mais o ridículo nem o virtuoso. O que temíeis revelar será exposto pela manhã.
E não haverá o menor traço de vergonha a perseguir-vos pelos vossos rincões.
Perdei o medo
Da mulher;
Do ladrão;
Do patrão;
Do Leão;
De vós.
Meus amigos, meus queridos amigos, apaziguai-vos.
Não haverá mais conflito entre as vossas vontades e os desideratos da vida.
Nem mais linhas que delimitem a vida e a morte.
Será o fim das horas, dos segundos, o rompimento do real e do metafísico.
Não tereis que pensar sequer.
Rompei a barreira escravizadora do imaginável.
Esquecei-vos.
Abandonai-vos, meus irmãos.
Parti todos vós como um olvido,
Congraçados pelos raios onipresentes de vossas auroras.

22/02/07

Um comentário:

Nobilíssimo Gêiser disse...

Olá, Fernando! Parabéns pelo blog. Sucesso e longevidade é o que eu desejo.

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Desde já, agradeço por sua atenção!!!